Espaços da vida elegante

O Chiado
A regeneração dos costumes e o inerente desenvolvimento urbano trouxe à vida quotidiana dos principais centros um novo espaço - o passeio público. Em Espinho, o local designado por "Chiado" era o centro da vida social, um símbolo da civilização burguesa. Ao contrário de alguns passeios públicos das grandes cidades que eram considerados socialmente mais restritos, o "Chiado" de Espinho era um espaço aberto a todos os estratos, mas não menos interessante do ponto de vista da ostentação social. Ficava situado a jusante da linha do caminho-de-ferro, entre a rua Bandeira Coelho (19) e a Avenida Serpa Pinto (Av. 8), e aí se situavam os principais cafés, casinos, cinematógrafos e também a Assembleia, local muito frequentado pelas elites. Passear "de cá para lá e de lá para cá no grande arruamento central", como escreveu Ramalho Ortigão, obrigava a uns certos cuidados, principalmente com o trajar, motivo de crítica para os olhares mais atentos. Funcionava como uma autêntica "passerelle" da moda e dos novos costumes. Com o sucessivo encerramento dos cafés e das suas esplanadas este espaço perdeu o esplendor que havia adquirido nos anos cinquenta e sessenta do século XX e morreu com o enterramento da linha férrea.

Os Cafés
Os cafés em Espinho, entre os finais do século XIX e os anos 70 do século XX, marcaram a vida social e cultural da vila e cidade de Espinho. Eram espaços de acesso democrático e com uma forte componente cultural, resultante da frequência em maior número de um grupo social intelectualmente mais evoluído, constituído por políticos, médicos, literatos, jornalistas, músicos, militares e industriais. O hábito de beber café, a leitura dos jornais, as cavaqueiras políticas, os amores, o jogo, as tertúlias literárias, os bailes e o gosto pela música marcavam o quotidiano destes espaços de sociabilização. De todas estas manifestações socioculturais a música era uma componente essencial para atrair mais clientela. Os proprietários desses "cafés-concerto" disputavam entre si a concorrência e, para o efeito, contratavam duetos, quartetos, quintetos e sextetos de categoria nacional e internacional. No Verão e em dias festivos, as esplanadas dos cafés enchiam-se de veraneantes que faziam do "Chiado" o centro da vida cosmopolita espinhense. O Chinês, Bragança, Peninsular, Central, Madrid, High-Life e, mais tarde, o Palácio, Gil, Costa Verde, Moderno, Nosso Café, Avenida e Cristal foram, à sua medida, elementos decisivos na formação de uma cultura urbana muito característica da cidade de Espinho.
 

Os Casinos
Se existe terra em que a tradição do jogo de fortuna ou azar se enraizou, de tal forma que a cidade já não "vive" sem o seu casino, essa terra é Espinho. A história do jogo nesta praia começou a partir da segunda metade do século XIX nos cafés e tabernas que dispunham de salas próprias para esta prática social. Os casinos pululavam numa zona compreendida entre a Av. Serpa Pinto (Av. 8) e a rua Bandeira Coelho (rua 19). Existiam casinos de "alta esfera" e casinos de "baixa esfera" ou "pataqueiras". Uma das mais emblemáticas salas de jogo do Portugal de Oitocentos foi o Casino Chinês, designado por Ramalho Ortigão como "Celeste Império", todo decorado com motivos orientais, destacando-se no seu centro a figura imponente de um mandarim de prata. A prática do jogo e o volume de dinheiro que já movimentava, fizeram desta atividade um trunfo político para várias lutas, entre as quais destaco a independência administrativa concelhia com a separação da freguesia de Espinho do concelho de Santa Maria da Feira. Em 1908 existiam seis casinos com contabilidade organizada – Boa Vista, Bragança, Central, Chinês, Peninsular e Pires. O Decreto de 1927 que veio regulamentar o jogo de fortuna e azar continha aspetos positivos e negativos para os municípios: acabou com a dualidade de critérios expressa nos Códigos Penal (proibição) e Administrativo (tolerância); obrigava as sociedades concessionárias a dotarem os casinos de um conjunto de infraestruturas ligadas ao sector do turismo (parques, restaurantes, hotéis e esplanadas), da cultura (salões de leitura, conferências, exposições, dança, teatro e cinema) e do desporto (campos de jogos); só contemplou  duas zonas (Estoril e Ilha da Madeira) com a concessão permanente, prejudicando as pretensões de praias como Espinho e Figueira da Foz que lutaram pela atribuição dessa concessão; a exclusividade do direito de exploração do jogo atribuído a uma única empresa terminou com os restantes casinos existentes; reforçou o papel centralizador do Estado ao atribuir somente 10% das receitas para as Câmaras Municipais do concelho da zona de jogo respetiva. A partir de 1928 várias empresas concessionárias deram continuidade à manutenção da tradição do jogo em Espinho com destaque para os nomes de Mário Ribeiro, Armando e Arnaldo Crespo, Afonso Pinto de Magalhães, David Sousa e Manuel de Oliveira Violas.        

O Cine-Teatro
O Teatro Aliança foi na praia de Espinho a "grande" sala de espetáculos até à inauguração do Cine-Teatro S. Pedro em Agosto de 1947. O edifício abriu as suas portas em 20 de Agosto de 1890 e ficava situado no ângulo das ruas Bandeira Coelho (rua 19) e Av. do Teatro (rua 16), no espaço hoje ocupado pela Caixa Geral de Depósitos. Para lá das muitas peças de teatro profissional e amador que foram levadas à cena, o Aliança foi a principal sala de cinema da freguesia de Espinho. Os anos 40 do Século XX trouxeram novos espaços à vida política, social e cultural desta Praia, com destaque para o edifício dos Paços do Concelho, a Piscina Solário Atlântico e o Teatro S. Pedro, uma sala moderna com uma capacidade de 1.100 lugares sentados repartidos por plateia, balcão, camarotes e geral. O velho S. Pedro foi uma verdadeira escola de cultura cinematográfica para muitas gerações de espinhenses. A sua demolição, que para muitos representou um verdadeiro atentado à dignidade da cidade e para outros novos ares de modernidade, pôs fim a uma cultura urbana que marcou a vida da estância balnear desde os inícios do século XX.