António Gaio (1925-2015)

O Museu Municipal de Espinho aproveitando a evocação a António Gaio por parte da Nascente – Cooperativa de Ação Cultural, quando passam 44 anos da sua fundação, disponibiliza vários documentos sobre a vida e a obra de um dos fundadores da Nascente e seu responsável ao longo de décadas, em especial no CINANIMA. Estes documentos integram a newsletter Nascente de 22 de maio de 2020, produzidos por ocasião da homenagem pública que lhe foi prestada em 2012. Trata-se de um vídeo, dos painéis de uma exposição realizada no Museu Municipal, e de uma gravação com os sons que marcaram a sua vida, apresentados por ele próprio.


Biografia

1925 – Nasce em Espinho, numa casa da rua 2, numa família que se dedica à indústria da panificação
1934 – Frequenta o Colégio Pedro Nunes, em Espinho, onde conclui o ensino primário e inicia o ensino secundário
1937 – Frequenta o Colégio S. Luís, em Espinho, onde conclui os estudos do ensino secundário e onde é colega de diversos futuros responsáveis da AAE
1947 – Começa a colaboração no jornal "Rumo" e funda a secção de campismo, juntamente com Mário Neves, no âmbito das suas atividades na Associação Académica de Espinho (AAE)
1948 – Torna-se membro da direção da AAE, com funções de tesoureiro, assumindo diversos cargos, sem interrupção, até 1977.
1950 – Assume a função de diretor do jornal "Rumo", da AAE, até final da sua publicação, em 1953
1953 – Começa a trabalhar como bancário, profissão que exerceu durante 35 anos, e edita o jornal "Vigor", propriedade da fábrica "A Vigorosa" e com conteúdos ligados à atividade empresarial daquela unidade fabril espinhense.
1954 – Inicia a sua atividade no âmbito da secção cultural da AAE
1956 – É um dos fundadores do Cineclube de Espinho e membro da sua direção até à intervenção policial de 1959, que depõe os corpos gerentes da associação
1957 – Inicia um mandato como membro da direção do Sporting Clube de Espinho, onde cria um boletim informativo e organiza sessões de cinema na sede do clube.
1958 – Edita vários números de um jornal alusivo à criação da empresa proprietária de "O Nosso Café" e às atividades que a mesma pretendia e veio a desenvolver
1973 – Passa a ser colaborador do jornal "Defesa de Espinho", a convite do seu diretor, Dr. Amadeu Morais; coordena a colaboração de um grupo de jovens no jornal "Defesa de Espinho", introduzindo assim um espírito de renovação nos conteúdos do jornal
1974 – Faz parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Espinho, até 1976, sob a presidência de Artur Bártolo
1976 – É um dos responsáveis diretos pela fundação da Cooperativa Nascente, colaborando na criação do jornal "Maré Viva" e do Cineclube Nascente, sendo presidente da direção da cooperativa em vários mandatos
1977 – É eleito vereador da C.M.E.
1980 – É eleito para a Assembleia Municipal; torna-se responsável pela coordenação da equipa que realiza o CINANIMA, assumindo depois as funções de diretor do festival até à presente data
1996 – É distinguido com a Medalha de Honra da Cidade de Espinho
1997 – É agraciado com a Comenda da Ordem de Mérito, pelo Presidente da República Jorge Sampaio
2000 – Publica o livro "Uma história do cinema português de animação – contributos"
2004 – Assume pela última vez as funções de diretor do jornal "Maré Viva"
2005 – É homenageado na Casa da Animação (Porto) numa cerimónia presidida pela Ministra da Cultura de então, Isabel Pires de Lima, e com a presença de muitas pessoas ligadas à ação cultural e ao Cinanima
2012 – É homenageado em sessão pública por um conjunto variado de entidades espinhenses nas quais colaborou e interveio ao longo de décadas, com destaque para: Associação Académica de Espinho, Sporting Clube de Espinho, Cooperativa Nascente/Cinanima e Câmara Municipal de Espinho


Quadros de uma vida inteira

Consultando a biografia essencial do cidadão António Gaio que aqui ao lado se dá a conhecer, facilmente se conclui que não há apenas um mas muitos cidadãos Gaio: há o António Gaio academista,  mas também o sportinguista de Espinho, há o homem de desporto em complemento com o agente de  cultura, há o jornalista de muitos jornais e há o político de intervenção local, há o cinéfilo mas também o dirigente associativo. Há o homem de muitas amizades e companheirismos.
Há o formador e o mestre de gerações que com ele aprenderam muito do que vieram a ser capazes de fazer. E há, ainda, o profissional bancário que acumulou essa profissão com uma relação antiga e regular com uma padaria onde se fabricou e fabrica muito do pão que em Espinho se tem comido. Acima de tudo, há o espinhense que nunca se negou à sua terra, que quis e soube servir de tantas maneiras.
Das suas dedicações principais e duradouras, duas se destacam: a ligação contínua à Associação Académica de Espinho, desde meados dos anos 1940 até meados dos anos 1970, e a relação que tem mantido com a Cooperativa Nascente e com o Cinanima, que dela derivou, desde 1976 até aos nossos dias. Para além destas duas dedicações de eleição, merecem ainda ser sublinhadas a participação numa direção do Sporting de Espinho, na década de 1950, e a entrada na ação política mais direta no pós 25 de Abril, através do exercício de cargos em órgãos de Poder Local para que foi eleito.
Mas se estes são destaques evidentes na sua prolongada e variada atividade certo é que António Gaio sempre foi uma pessoa de muitas paixões, em que o cinema e o jornalismo assumiram especial significado. Este ligado à fundação do Cineclube de Espinho, que na década de 1950 foi um importante centro de difusão de cultura cinematográfica e de agitação de ideias. Este interesse pela Sétima Arte esteve mais tarde na origem da sua participação na criação do Cineclube Nascente e, logo depois, no seu contributo decisivo para a implantação do Cinanima como grande festival de cinema a nível internacional.
No jornalismo, António Gaio destacou-se como criador e fundador de diversos títulos e colaborador de outros. O gosto inicial pela informação escrita foi buscá-lo à experiência fundadora do velho jornal Rumo, bandeira de uma geração de academistas que marcaram uma época, a que deu continuidade com pequenas, mas significativas experiências de criação de jornais e boletins informativos no Sporting de Espinho, n'O Nosso Café e até numa unidade fabril espinhense, onde foi responsável por uma publicação empresarial com espírito pioneiro. Esteve ligado durante vários anos ao jornal Defesa de Espinho e acabou por se um dos fundadores e mais permanentes responsáveis pela existência do jornal Maré Viva.
As distinções com a Medalha de Honra da Cidade de Espinho e com a Comenda da Ordem de Mérito, pelo Presidente da República, muitas décadas depois de tudo ter começado, constituem sinais visíveis de que a ação de António Gaio não passou despercebida e de que o seu empenho de cidadão de uma vida inteira merece o reconhecimento da comunidade e de cada um.